Ela é o tipo de mulher que não teme o batente e vai à luta com garra e coragem para ganhar a vida com o suor do trabalho. Mora na Zona Oeste e acorda cedo para ocupar o seu posto, no centro da cidade. Sai de casa às seis da manhã. Chega por volta das oito horas à sede administrativa da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, na Avenida Marechal Câmara, onde assume suas tarefas administrativas na Coordenadoria de Segurança. Cumpre uma jornada de doze horas e, quando volta a pôr os pés em casa, o relógio já passa das dez da noite. Ainda guarda disposição para fazer o jantar e olhar o filho antes de ir dormir.

Sargento policial militar cedida à Defensoria Pública, Roberta Libório é mãe de um casal de filhos. Uma jovem de 19 anos e um menino de 10. A filha mais velha já está cursando a faculdade de Farmácia e cuida de si mesma, mas o mais novo ainda precisa da assistência materna. Quando está em casa em dia de folga – Roberta trabalha por escala – ela leva o filho à escola, ao curso de inglês e ao judô. E, é lógico, também o ajuda com as lições de casa. 

— Desdobrar-me enquanto mãe e profissional não é nada fácil para mim, mas são funções que encaro com muito amor e carinho. Como mãe posso dizer que meus filhos são meu coração fora do peito e, enquanto profissional, reconheço que nunca me imaginei vestindo uma farda, mas acredito que não me sentiria tão feliz e realizada, profissionalmente falando, fazendo outra coisa que não fosse ser Policial Militar. 
 
Mulher que trabalha e cuida dos filhos

Agora que as mulheres definitivamente conquistaram seu espaço no mercado de trabalho, quando chega o momento de conciliar a profissão com o exercício da maternidade todo mundo se pergunta: Como é que vai ser? Para Roberta Libório, a maternidade trouxe um momento de grande virada para a sua vida. Dezenove anos atrás, ao se ver morando numa kitnet com o marido e a filha de dois meses, cercada de eletrodomésticos velhos e ultrapassados, entendeu que precisava mudar aquela realidade. E que a mudança dependia também dela mesma. O concurso para a Polícia Militar, aberto no ano 2000, foi oportunidade que se abriu para a conquista da estabilidade no emprego e o que lhe daria a perspectiva de uma vida melhor. Ela acreditou e continuou indo à luta.

Na época, trabalhava como diarista durante a semana e, nos finais de semana, era ajudante num salão de beleza. Preparou-se para as provas unindo a vontade de passar no concurso com a necessidade de ganhar o pão de cada dia. Porque, além de trabalhar como diarista e ajudante num salão, ainda encontrava tempo para dar aulas de português e de matemática. Graças a sua vivência como explicadora, Roberta não apenas ensinava, mas igualmente aprendia. E com esse reforço conseguiu passar na prova do concurso para soldado da Polícia Militar.

— Eu me empenhei para dar as aulas como explicadora. Tive duas alunas. Foi aprendendo para ensinar que eu passei. Eram 29 mil inscritos no concurso concorrendo às trezentas vagas oferecidas. Eu passei entre os cem primeiros colocados — recorda-se Roberta.

Aprovada no concurso, ainda foi preciso aguardar a convocação, que só chegou em 2003. Nesse período, Roberta voltou a se empregar na farmácia de manipulação onde já havia trabalhado durante seis anos. Com a convocação, pediu demissão para participar do curso de formação de soldados, no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças. Foram sete meses de uma rotina "bem pesada", com exercícios físicos, aulas de legislação e treinamentos de tiro, que a tirava de casa às 4h30. Na época, deixava a filha de três anos com uma cuidadora de crianças que morava na vizinhança. O marido também trabalhava fora. 

 — Tive sorte. A cuidadora me ajudou muito. Foi a melhor pessoa que apareceu na minha vida naquele momento. Antes, quando eu ia na casa de alguém fazer limpeza, e também quando eu auxiliava no salão de beleza, levava a minha filha comigo. Quando eu dava aulas, sempre em casa, ficava mais fácil cuidar dela — revela Roberta, que é casada há 23 anos — O meu marido foi companheiro nos momentos de maior dificuldade da nossa família. Depois de toda a batalha que tivemos, eu enxergo que toda a luta valeu a pena. Serviu para valorizar as nossas conquistas. 
 
Cumprido o curso de formação de praças, Roberta Libório foi lotada no Batalhão de Turismo (BPTur) em Copacabana, onde permaneceu durante cinco anos. Em seguida, foi destinada à Diretoria de Assistência Social (DAS), localizado no 4º Batalhão da Polícia Militar, em São Cristóvão.  Um ano depois voltou para a BPTur e, em 2011, foi cedida à Defensoria Pública.  Prioritariamente, exerce funções administrativas. Mas sendo necessária a presença de uma policial feminina, está a disposição para atuar na segurança. Cursa faculdade de turismo no Centro de Educação à Distância do Estado do Rio de Janeiro.



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