A Escola de Educação Financeira da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro transmitiu ao vivo, na manhã desta sexta-feira (13), o videocast "BETs - O Impacto das apostas esportivas no orçamento familiar", pelo canal de YouTube da instituição. O tema tem ganhado destaque na mídia devido aos efeitos das apostas no endividamento da população - sobretudo das classes D e E - e ao vício crescente entre jovens, impulsionado pela participação de influenciadoras(es) digitais na divulgação da prática.

Entre 2018 e 2023, os gastos com apostas on-line aumentaram 419%, evidenciando o crescimento dessa iniciativa no país. O Brasil ocupa a liderança no acesso a sites de apostas esportivas dessa modalidade no mundo. Estar no topo deste ranking envolve perdas financeiras para quem aposta.

Com foco na prevenção e na conscientização em torno do tema, o videocast foi apresentado pelo coordenador acadêmico da Escola de Educação Financeira da DPRJ, Carlos Batalha, tendo como palestrante o subcoordenador do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), Thiago Henrique Cunha Basílio.

— Essas apostas on-line passaram a representar uma parcela cada vez maior da renda de famílias. Isso é um risco especialmente para as classes mais vulneráveis. Neste sentido, a educação financeira tem muito a contribuir para prevenir e conscientizar. — Enquanto defensor, e temos na DPRJ esse departamento de atendimento ao consumidor superendividado, é nosso papel trazer esse debate e alguns alertas que precisam ganhar a grande mídia. Notamos um aumento exponencial nas apostas on-line desde 2018, quando foram autorizadas pela Lei 13.756 e o Brasil passou a figurar, já em 2019, na quarta posição (com 456 milhões de acessos a sites de apostas).  Em 2023, ocupamos o primeiro lugar nesse ranking (com 3.38 bilhões de acessos a esses sites), ultrapassando a Grã-Bretanha — observou Basílio.

Durante o videocast foi traçado um painel sobre como anda a regulação das apostas no Brasil. O entrevistado também deu dicas sobre educação financeira em torno do tema. 

De acordo com o subcoordenador do Nudecon, nesse cenário torna-se fundamental o entendimento sobre este mercado, o que inclui informação sobre riscos, cuidados e de que forma a propaganda tenta convencer os consumidores sobre a projeção de ganhos financeiros irreais. 

— Aposta não é investimento. Um estudo da Strategy aponta a evolução em volume de apostas no Brasil, que salta de 7.2 bilhões, em 2019, para algo entre 67 e 97 bilhões em valor de apostas em 2023. Já a XP fala de 100 a 120 bilhões de em volume de apostas no Brasil (o que corresponde a 1% do PIB). Isso significa que parte significativa da renda do orçamento familiar (20% da renda livre - não a bruta - das famílias) está comprometida com essas apostas, o que configura um cenário preocupante.  Importante destacar que, entre os apostadores, somente 23% declaram que tiveram ganho. No caso, ganhos aparentes, pois as pessoas gastam em bens não essenciais. As redes sociais, por meio dos algoritmos, também causam uma falsa impressão de que todos estão ganhando, menos você. Mas é ilusório — ressaltou Thiago.

A ideia do videocast é se antecipar e fazer alertas. Por meio dessa iniciativa, a DPRJ busca começar a identificar casos de pessoas superendividadas por apostas financeiras, explicou Basílio.

Uma parcela do público envolvido nessas apostas chama a atenção: os adolescentes - o que contraria a vedação de aposta por pessoas com menos de 18 anos (Artigo 26 da Lei 14.790/2023). O subcoordenador do Nudecon orienta que, nesse caso é importante primeiro denunciar a casa de aposta que não tomou os devidos cuidados para impedir que este público tivesse acesso ao seu conteúdo. Em segundo lugar, buscar o acompanhamento próximo desse adolescente para tratar a questão, de modo que ele possa entender os riscos e também ter uma rede de apoio para sair dessa condição.

— Dados do Datafolha apontam que 30 % dos casos de jovens atendidos em hospitais de São Paulo com patologia são casos de vício em jogo. São necessárias políticas públicas mais esclarecedoras sobre os impactos e riscos envolvidos, além de uma fiscalização maior.

Confira, aqui, o videocast completo. 

Texto: Júlia Duque Estrada



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