Uma ação que busca esclarecer os direitos de quem passa pela dor de não saber o paradeiro de um ente querido. Foi assim a primeira edição do Mutirão de atendimento a familiares de pessoas desaparecidas, realizado na quinta-feira (26), na sede da Defensoria Pública. Em meio à saudade que permeia a história de cada uma das 32 famílias que participaram da ação, o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (NUDEDH) atuou para mostrar as medidas legais cabíveis diante desse cenário. 

— Durante o mutirão, foi possível ajuizar pedidos de declaração de ausência, que muitas famílias desconhecem o que é. Na prática, esse documento serve para que haja uma sentença judicial que afirme que aquele ente familiar está desaparecido. Com isso, a família pode ter acesso a diversos direitos — explica a Defensora Gislaine Kepe, que conta que a declaração de ausência pode ser emitida com apenas 6 meses do desaparecimento de uma pessoa. 

 

Ainda de acordo com Gislaine Kepe, é possível conseguir os seguintes direitos com o documento de declaração de ausência. 

  • Rescisão de contratos de locação e serviços em nome da pessoa desaparecida. 
  • Guarda unilateral de filhos caso seja emitida a declaração de ausência para um dos responsáveis. 
  • Pedido de pensão por morte, por conta da ausência. 

Muitas mães que perderam seus filhos marcaram presença no evento, como Rogéria Rodrigues, que em 2009, teve que lidar com a dor de ver sua filha Vitória sumir. 

— Ela tinha 11 anos quando desapareceu em Irajá. Naquele dia, ela chegou em casa do colégio, almoçou, trocou de roupa e foi para a casa de uma amiga. Foi a primeira vez que ela saiu sozinha. Eu estava trabalhando, era diarista. Fiquei desesperada ao saber que ela tinha sumido. Busquei muito, procuramos a polícia, detetives. Vitória nunca mais foi encontrada — lamenta Rogéria. 
 

Ainda hoje, 16 anos após o crime, a mãe segue em busca da filha. Para quem teve um filho desaparecido quando ainda era criança, os direitos que podem ser conseguidos são outros. 

“É possível fechar a conta nas redes sociais dessas crianças e adolescentes, além de conseguir o cancelamento do CPF, para evitar que o número seja usado para golpes”, explica a Defensora, ressaltando que o cancelamento do documento não faz com que a investigação pare. 

— Essa dor que vocês carregam é permanente, e nosso papel é estar ao lado de vocês, oferecendo acolhimento e acompanhamento jurídico contínuo — afirmou o Coordenador do NUDEDH, Defensor Marcos Paulo Dutra Santos. 

Participaram do evento também a Secretaria do Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do governo do estado, o Ministério Público (PLID/MP) e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Todos os órgãos, unidos, prestaram um atendimento esclarecedor e de grande acolhimento para as famílias que enfrentam, dia a dia, a ausência de alguém que partiu sem deixar rastros. 
 

Texto: Elisa Soupin

Fotos : Ronaldo Junior

Veja as fotos do mutirão no Flickr!



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