Na manhã desta segunda-feira (29), o auditório do Núcleo Especial de Direito da Mulher e de Vítimas de Violência (Nudem), no Rio de Janeiro, abriu espaço para um grupo de 40 mulheres selecionadas pelo Projeto "Mulheres Mil". O programa, criado pelo Governo Federal, oferece cursos profissionalizantes a mulheres em situação de vulnerabilidade, com prioridade para aquelas inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).

No Rio, a execução do projeto se dá por meio de uma parceria entre a Defensoria Pública e o Colégio Pedro II. À Defensoria coube articular a seleção, ceder o auditório e garantir que cada estudante tivesse em mãos um kit de maquiagem, ferramenta indispensável para as alunas poderem iniciar o curso de Maquiadora. As participante terão 160 horas de aulas, sendo metade destinada exclusivamente à prática.

A formação não se restringe à técnica. A grade inclui módulos de Português, Matemática, Direitos da Mulher, Expressão Corporal e Verbal e Noções de Empreendedorismo. Para receber a bolsa-auxílio, cada participante precisará cumprir 75% de presença.

Durante o encontro, a Defensora Pública e Coordenadora da Coordenação Geral de Programas Institucionais (COGPI), Mirela Assad, destacou a lógica do programa:  

– Mulheres vítimas de violência e de exclusão social só conseguem sair desse ciclo quando conquistam capacitação profissional. É a partir dela que vêm a autonomia e a independência. Esse curso é uma forma de tornar concreta a inclusão social pela qual a Defensoria luta diariamente – destacou a Defensora Pública, Mirela Assad. 

A aula inaugural foi ministrada pela psicóloga Maria Clara, com foco em ética e relações interpessoais – introdução às questões que acompanham a prática profissional para além dos pincéis.

A dimensão do projeto, no entanto, supera a sala de aula. Em um estado onde a desigualdade frequentemente se traduz em violência, especialmente contra mulheres trans em situação de rua, a iniciativa se apresenta como ponto de apoio. O Rio segue entre os locais mais hostis do país para essa população, que encontra barreiras sistemáticas ao acesso ao mercado de trabalho.

Entre as alunas está Jaqueline Fontenele, vinda de Belém do Pará. Chegou ao Rio em maio, para assistir ao show da cantora Lady Gaga, e permaneceu sem data de retorno. No curso, encontrou uma possibilidade de reconstrução:

 – A Defensoria investiu nos materiais e se comprometeu a acompanhar a gente de perto. Isso faz diferença. Faz a gente se sentir reconhecida –  disse Jaqueline Fontenele.

Ao final da manhã, entre histórias compartilhadas e diferentes opções de sombreado, espera-se que cada participante aprenda a criar beleza no rosto alheio - e, ao mesmo tempo, reencontre a própria, já não interditada pela vulnerabilidade.

Texto: Leonardo Fernandes



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